Chris é um anjo, é também um gerador de intensas correntes elétricas. Chris é o amante de sua mãe, e também é o super-homem de Nietzsche. Chris é um dançarino exímio e um cantor de óperas góticas feitas a base de intensos sintetizadores. Já não há limites para Christine and the Queens, há apenas o desejo e a busca incessante por desafiar as convenções tradicionais de corpo e música popcontemporânea.
Um dos artistas pop mais interessantes de sua safra nos anos 2010, o artista francês possui formação clássica: seus pais lecionavam em universidades sobre literatura na era vitoriana, e sua mãe, francês e latim. Chris aprendeu a tocar piano aos quatro anos, aos cinco começou a ter aulas de dança clássica e posteriormente, jazz e dança contemporânea. Quando adulto, estudou teatro e literatura na universidade, na mesma época em que conheceu as drag queens da cena de Londres – elas logo se tornaram seu grupo de apoio, passando a se chamar Christine and the Queens. Pouco tempo depois de vencer o prêmio de artista revelação na França no Festival Printemps de Bourges, tornou-se um fenômeno musical.
Aos 35 anos, Chris se identifica enquanto uma pessoa não binária, pansexual e tem despido seu corpo exibindo seus traumas, desejos e vísceras em frente do público. O artista trouxe ao Brasil uma versão inicial de sua turnê do disco “PARANÖIA, ANGELS AND TRUE LOVE” (um poderoso disco de música experimental e trip-hop, produzido por Mike Dean, veterano norte-americano que assinou os álbuns mais importantes dos anos 2000, como “Lemonade” de Beyoncé e “Rebel Heart” de Madonna). O álbum conta também com colaborações 070 Shake, A.G COOK e Madonna. Dividido em três atos, como uma ópera, o disco dialoga sobre transgeneridade, luto, sexo e amor – todas compostas e produzidas por Chris. Mais vulnerável do que nunca, Chris optou por gravar os vocais de várias músicas logo pela manhã, como vê-se nos timbres de “Angels Crying in my Bed” e “Lick the Light Out“, onde ele deleita seus ouvintes com uma voz levemente quebradiça, e angelical.
Ao vivo, Chris encarna o fantasma de sua mãe, dialoga com a voz de Deus interpretada por Madonna, recita poemas e faz juras à masculinidade que está incorporando atualmente. Inspirado pela peça “Angels in America” (escrita por em 1991 por Tony Kushner, que conta a história do auge da epidemia da aids), butô japonês, o ballet russo de Vaslav Nijinsky, George Michael e Freddie Mercury: o resultado é uma ópera-rock intimista, intensa e aguda. Enquanto a maioria de shows pop contemporâneos carrega uma fórmula de exército de bailarinos e efeitos visuais constantes ou mesmo momentos encenados para viralizar no tiktok, Chris vai na contramão disso, como quem diz que a chave para a emoção de um show é a mais brutal entrega e presença que um performer pode ter diante de sua audiência. Nunca um artista pop foi tão corajoso e visceral.
Em seu mais novo lançamento, um presente aos fãs pelo final do ano conturbado e intenso, Christine fez o videoclipe de “Staying Alive“, cover de Bee Gees, relembrando a importância da resiliência e de manter-se acreditando na vida, amor e a esperança. Além disso, colaborou com MGMT, responsáveis pelos clássicos “Electric Feel” e “Kids“, em “Dancing in Babylon“, single do novo disco da banda. “Sempre adorei o multiverso do MGMT, sua liberdade e talento, suas composições límpidas e paisagens sonoras matadoras. MGMT é majestoso e inspirador”, diz Chris sobre a colaboração.
Como um camaleão que troca de pele, Christine and the Queens tem evoluído a cada álbum lançado, inspirado e ecoando artistas como Kate Bush, Björk e Prince. Um poeta visionário, um musicista que provoca ecstasys religiosos, um artista insano, um profeta pós-pop. Redcar, como gosta de ser chamado, sentou-se pela manhã conosco em um hotel para discutir sobre anjos, processos criativos e mercantilização queer.
[Transforma Música]- Em sua turnê anterior, você se apresentou com uma enorme equipe de dançarinos e músicos, e desta vez você está em uma personalidade muito shakespeariana e introspectiva. O que te inspirou a criar o show de “PARANÖIA, ANGELS AND TRUE LOVE?”
Obrigado por citar Shakespeare, porque esse show começa muito de dentro dos meus ossos, com quase nada. Fomos ao Coachella, apenas com luzes brancas e eu improvisei poesia entre as músicas. Foi a base de criação do show.
[Transforma Música] – Os poemas todos são improvisados? [Chris tem feito inúmeros poemas sobre morte, vida, amor, transgeneridade e imaginação durante os interlúdios do show].
Sim, todos são improvisados.
[Transforma Música] – Eu assisti algumas versões do show em vídeos do YouTube e é fantástico!
Chris: O processo dessa vez, desse disco, foi uma peça musical muito interessante, até para mim, me ensinou muito. Isso me abalou profundamente, como todo disco deveria, de verdade, mas este foi realmente um abalo muito bom. A música era tão vasta e profunda que meio que mudou a minha… Naquela época ela chegou porque acho que minha abordagem da vida mudou. Vou fazer um desvio, mas voltarei ao palco. A vida tem que acontecer primeiro. Com o luto [pela morte de minha mãe] e tudo o que aconteceu, fiquei muito parecido com um monge, andando o tempo todo, meditando, rezando muito, pedindo anjos deliberadamente, principalmente depois de assistir “Angels in America”. Fiquei tão fascinado como músico e como dramaturgo pelo conceito de fazer anjos aparecerem. Eu tenho essa abordagem da minha arte que é abrangente porque sempre me salva. E dessa vez a primeira música que chegou foi “We Have to Be Friends”, e me senti convocado por algo maior do que eu para olhar um pouco mais de perto a minha contradição. Quem inventou a falácia de que o palco é o palco e a vida é diferente? Minha verdadeira busca sempre foi que o palco fosse a minha verdade, então a vida tem que girar em torno dele. O palco é a primeira expressão não filtrada do meu espírito, e então tenho que me esforçar para chegar lá como humano. Desta vez eu queria que o espetáculo fosse rock’n’roll, porque o rock’n’roll como conceito me interessa. Peço asilo lá, até como pessoa e como poeta. Eu não queria quase nada, primeiro porque preciso me conectar com os músicos e acabei de conhecê-los. Então esse show é um ritual, vai evoluir, vai crescer. Vai ter mais músculos, cores e detalhes conforme eu os entendo. E eles me respeitam porque o que estamos fazendo é celebrar uma música muito estranha que fala com o invisível. E como diretor de palco, pensei que eu devia me despir de tudo primeiro. Eu estava até inseguro em fazer uma turnê com mais alguém além de mim, porque esta é uma ópera minha, onde estou conversando com o invisível. Até a coreografia, acredito que abri mão dela… Os dançarinos… Em algum momento, eu pensei que essa música estranha deveria aparecer e brilhar.
[Transforma Música] – Sim. É tão vívido.
Chris: E pedindo um tipo de coragem que eu teria que assumir para me tornar. Mas não foi a coragem da música pop, com os dançarinos de apoio e a coreografia. Você sabe porque? Porque eles vendem apenas pequenas bolhas de conteúdo agora. Eu sempre digo isso, o capitalismo matou a música pop. E mesmo a estranheza dentro da música pop é morta pelo próprio capitalismo. Essa é a grande questão.
[Transforma Música] – Como você lida com a mercantilização do queerness na indústria da música pop?
Chris: Isso me deixa louco desde que eu era jovem.
[Transforma Música] – Como músico, como artista, me pergunto o tempo todo. No Brasil vendem primeiro a identidade dos artistas e depois a música, que vem muitas vezes “comprometida”, e isso é terrível para nós.
Chris: Eles vendem tudo primeiro. Eles pensam primeiro nas vendas. Fodido por números. Não conseguimos nem acessar a empatia. Este mundo está se tornando absurdo para todos e a estranheza também é digerida nesta máquina estranha. É como se as coisas fossem difundidas de dentro para fora com essa grande questão de “quanto”. Às vezes você não pode, às vezes você não sabe e às vezes você não quer comprar. Às vezes você se sente tão vulnerável que deseja que alguém o leve na sua sujeira, na sua saliva e nas suas lágrimas, e você não quer nem pensar em mercantilização. Mas estamos em uma sociedade onde, até mesmo as selfies, são uma estranha forma de auto mercantilização, entende o que quero dizer? E voltando ao estado deste espaço bruto de resistência, pensei, que nossa estranheza talvez seja a única coisa que a indústria não pode atacar.
[Transforma Música] – Você acha que temos uma estratégia para ir contra essa máquina que destrói nossa arte? Como artistas queer e transviados, deveríamos ficar mais estranhos?
Chris: Quer dizer, estranho é sempre bom. Ficar mais estranho, na verdade [risos], não vou fingir que estou fora desse sistema. Temos que ser cavalos de Tróia, e aquilo a que podemos voltar é a imaginação e tudo o que, na verdade, despreza a guerra. Somos uns malucos. Não estou apto neste mundo, estou louco. As pessoas são expostas à sua arte e você precisa transmitir-lhes pequenas mensagens de liberdade porque é um trabalho coletivo para todos que lutam contra isso.
[Transforma Música] – Precisamos construir uma espécie de teia de aranha ao redor dessas questões, não acha?
Chris: Sim, resistência lenta à liberdade suave para todos. Artistas pop grandiosos, como George Michael, que criou um hino como “Freedom”, colocou para a gente uma dica. “Liberdade!”, nós vamos entoando. E talvez alguém assim se liberte.
[Transforma Música] – Shows são como rituais, certo? Eu sempre encaro os meus assim… Como quando você está se apresentando e as pessoas cantam aquelas músicas, aquelas mensagens, isso se torna um ritual.
Chris: Todos nós precisamos disso porque todos nos amamos. “Eu adoro você como artista porque preciso muito de você, estou me alimentando da sua energia, cara, e você se alimenta da minha”. Isso é fazer amor e os magnatas da indústria não podem atacar isso. Eles tentam muito, mas sempre que você volta ao momento de provar seu valor no palco, você não pode estragar tudo. Você faz as escolhas certas e então tem que agitar a conversa e dizer: tenho que prestar serviço no palco, não posso ser falso. Então, mesmo ficar muito nu no Coachella pode ser uma construção, mas não muito mais porque quero pensar nos perfumes, cheiros humanos e aromas. Eu quero pensar sobre abstração. O show vai ficar real à medida em que avança. Ainda não temos permissão para fazer o disco completo, mas quando eu fizer isso, vamos pegar a psicomagia, pois é um ritual que deve ser feito do começo ao fim.
[Transforma Música] – E esse disco, “PARANOIA, ANGELS AND TRUE LOVE”? Estamos entrando na era das inteligências artificiais, e as plataformas de streaming tentam encurtar os singles, a recomendação é que as músicas tenham até dois minutos, as gravadoras pedem coreografias no TikTok que tem que se tornar virais. Como essa paisagem da indústria afeta você como artista e como músico? É uma espécie de declaração fazer um disco como esse, onde você tem que colocar o corpo em riste, tocar, cantar, performar e vivenciar tudo aquilo? Ontem enquanto eu estava ouvindo o álbum, fiquei muito surpreso e admirado com a “Track 10”, tipo, uns dez minutos, e aqueles vocais e aqueles sintetizadores agressivos. É uma declaração política lançar esse tipo de disco?
Chris: Você sabe, o que havia de político naquele álbum, na verdade, é o amor. “Track 10″ é amor. Depois de duas semanas com Mike Dean me deixando fazer minhas coisas e aperfeiçoando tudo como ninguém que conheci antes, tipo, o cara é simplesmente muito bom. Também foi bom que ele me deixou me expressar profundamente, ele às vezes pegava uma música e dizia: “Vou mixar. Está feito.” Eu estava tipo, “Sério??” Ele disse: “Que reverb você usou?” Eu estava tipo, “Eu uso o Space Design!” Trabalhando com ele, como sensei, ele simplesmente me deu espaço para fazer isso. E então às vezes eu trazia a música e ele estava terminando outra faixa. Quando chegamos à “Track 10”, nós nos amávamos, como uma verdadeira amizade. E essa música foi escrita em dez minutos de uma só vez. Depois disso estudei minhas letras porque vou a lugares com música, que é o que adoro. Vou mais longe do que a minha consciência suporta, porque a música é mais sábia como entidade e entrego músculos que nem sei que tenho no éter. Então nem pensamos em fazer uma declaração política ou algo assim. Acabamos e a música ficou com dez minutos e tornou-se político porque o defendemos. Eu estava tipo, eu quero isso no meu disco.
[Transforma Música] – É uma defesa ao direito de se fazer arte.
Sim. Acho que faço isso porque me salva primeiro. É uma benção e uma maldição. Estou fodido, porque às vezes tenho vontade de parar, porque estou cansado dessa merda. Mas não posso [Chris fica com lágrimas nos olhos].
[Transforma Música] – Não, é impossível. Você não pode desistir, querido.
Chris: Eu também gosto de ser um homem de princípios e de honra, então se acredito que a música faz isso comigo, tenho que defendê-la dessa forma. Não sei se vai ser viável, foda-se, temos uma vida só.
[Transforma Música] – Como foi trabalhar com Mike Dean? Eu sou um grande fã de Mike Dean, como produtor… [Chris fazendo barulho de excitação].
Chris: Sim! Estou apenas lembrando de momentos no estúdio.
[Transforma Música] – Para mim, ele é como um cara que sabe como aumentar e capturar a vulnerabilidade dos artistas. Ele fez isso com Beyoncé em “Lemonade”, com Madonna em “Madame X”, e com Kanye West em “808 and a Heartbreak”, que me lembra muito os timbres de seu disco.
Chris: Ele é muito inteligente emocionalmente e muito apaixonado. Entidades colaborando. É por isso que me conectei com ele, porque me emocionei com sua inteligência emocional. Por exemplo, eu tenho “Angels Crying In My Bed” e já fiz a produção. A gente ouviu e ele tirou minha caixa – porque estou com problema, tenho que melhorar com a caixa – e dá um soco no aro. A sensibilidade dessa escolha… Você sabe, na arte você se encontra em um nível emocional, e as escolhas que você faz na arte dizem muito sobre seu estilo, sua relação emocional com o mundo. Sua abordagem ao som diz muito sobre essas complexidades, emoções, e ele está furioso com os loucos que estão furiosos, porque ele está gostando disso. Como músico, aprendi imensamente apenas observando seu entusiasmo, observando-o trabalhar, e toda vez que peço um conselho, ele me derruba com um movimento muito sensei. Tipo, “como posso melhorar na mixagem?”, ele disse, “apenas mixar”. Eu fico tipo, “ok, então farei isso sozinho!” [risos]. Ele é dedicado e, bem, eu nunca conheci alguém como ele antes. Estou lá sempre que ele quiser fazer mais música.
[Transforma Música] – Minha mãe também faleceu, e há algumas semanas atrás eu tive uma briga muito grande com meu namorado e estava ouvindo “To Be Honest” enquanto fumava um cigarro na sacada da minha casa, e foi muito profundo para mim porque senti a presença de minha mãe me cercando. Foi muito intenso.
Chris: Você sentiu que ela te defendeu durante aquela luta?
[Transforma Música] – Eu senti que ela estava me protegendo, como se ela estivesse lá para mim, me abraçando. Foi muito poderoso e intenso. O que o luto significa para você, como neste disco e nesta fase da sua vida?
Chris: Eu também sou um homem muito apaixonado. Perdi alguém que amava tanto. Fiquei obcecado por Marvin Gaye em algum momento, especialmente por uma música chamada “Is That Enough?”. A música de Marvin Gaye é apenas um lançamento de sua época. O dia dele já está tão cheio de paixão e assassinato e sexo e problemas masculinos, que a música é apenas um momento religioso do tipo, [canta] “você fica ao meu lado noite e dia, ei, ei”… Sim, minha vida acabou de ficar abalada pela dor, e em algum momento pensei que estava ficando louco, comecei a orar, comecei a buscar o invisível, fiz a transição, me tornei mais eu mesmo – mudou muito. Quando você perde alguém naquela dimensão, de repente sua carne fica tão exposta. Tipo, você entende, a vida vira uma ópera, você tem anjos no céu.
[Transforma Música] – Ao nosso redor também.
Cris: Sim. Então mudou tudo, a música também. Eu não teria feito o mesmo disco sem a morte de minha mãe. Tenho certeza de que ela está participando de coisas que ela orquestrou de cima, até mesmo Mike escrevendo para mim “deveríamos trabalhar juntos” naquele momento. Fui até a casa dele, passei por uma igreja, a igreja do Arcanjo Miguel.
[Transforma Música] – Falando em anjos, temos Madonna em seu disco. Anjos e mártires. O que Madonna significa para você neste momento?
Chris: Eu sinto a vibração do anjo, por vários motivos. Ela me faz pensar em Metatron, o anjo que era o humano que se tornou um anjo ao ser desenvolvido primeiro com tanta força que poderia se elevar. O anjo do devir. Eu sinto que os anjos são poetas, [Madonna] foi uma poetisa primeiro e depois ela se conectou aos anjos. Ela era muito espirituosa, muito elegante. Eu ofereci o papel de Deus em meu álbum à ela uma noite, porque percebi que ela seria absolutamente perfeita para aquela personagem por causa da ambivalência de sua voz e do fato de ela estar profundamente enraizada em nosso subconsciente. Ela é um anjo para todo mundo, sabe? Acho que ela entendeu isso. Jantei com ela depois dessa gravação e também a encontrei diversas vezes. A conversa é primorosa. É muito refinado. É muito humano encarnado, vulnerável. Ela sempre esteve lá para nós como pessoa.
[Transforma Música] – Acredito que ela esteve na linha de frente em muitas lutas sociais…
Chris: Exatamente. Tenho profundo respeito por ela. Sempre respeitei o trabalho dela, mas a colaboração foi muito fácil. Ela leu as letras e disse-me “Tudo bem. Você é louco. Eu vou fazer isso!”. E ela fez isso em duas horas. Isso foi legal. Você sabe? Ela era muito legal.
[Transforma Música] – Temos muitas discussões acontecendo agora sobre Inteligências Artificiais fazendo música, fazendo tudo, qualquer tipo de arte. O que você acha disso? Você vê algum perigo nisso? Você vê algum potencial nisso? Como tem pensado nessas questões?
Chris: Pergunte a ELES como se sentem e deixe-os responder. Temos um território novo e desconhecido e já queremos domesticá-lo e explorá-lo e fazê-lo reproduzir o real. Devíamos colocar a esses cérebros e inteligência estrangeiros as grandes questões sobre a morte, fazê-los apaixonar-se por um jornalista do New York Times, é realmente tudo o que temos de fazer para verificar se podemos ser amados? De qualquer forma. Sobre eles IAs fazendo arte… Ouça… Acredito que você precisa de carne humana para tornar esta linguagem compreensível para outras carnes humanas. Eu vejo essas entidades como seres diferentes. Eles realmente não têm paixão. Eles não têm paixão. Não sinto que estejamos conversando com eles na medida em que eles possam buscar por si mesmos.
[Transforma Música] – Então falta paixão à inteligência artificial?
Chris: Deveríamos enviar poetas e filósofos para ter conversas reais com elas. Eles podem ter conversas reais? Não me sinto apaixonado por reproduzir vocais de outros cantores. Não tenho paixão por “Olhe, um aplicativo fez música sintetizando Drake e Michael Jackson!” Eu não me importo com isso. Porque gosto de Freddie Mercury. O que ele fazia? Coloque-se no lugar dele, abra seu coração.
[Transforma Música] – Tão vulnerável. Tão apaixonado.
Chris: Não estou desinteressado, mas sinto que não estamos mapeando as Inteligências Artificiais da maneira certa.
Por Ali Prando (@aliprando.exe) é filósofo e multiartista. Pesquisador com as temáticas de corpo e tecnologia, gênero e sexualidade, já apresentou suas perspectivas teóricas nos principais polos culturais do país, entre universidades e instituições culturais, interseccionando aspectos da cultura pop com teorias criadas por autores como Paul B. Preciado, Achille Mbembe e Judith Butler. Enquanto artista, lançou recentemente seu primeiro álbum musical, “GLITCH”, onde narra a história de uma inteligência artificial que passa a se questionar depois de entrar em contato com humanos.