A música, esse grito vivo e mutável, nunca se limitou às normas de um mercado – e nós muito menos. Ela atravessa corpos e vozes com potências que rasgam o real, propondo novas rotas para o desejo e para a expressão. No entanto, o que significa ver uma indústria escolher a exclusão? Escolher que apenas certos corpos, certezas e estruturas se perpetuem? Quando instituições reforçam representações heterocentradas, afasta-se da cena um imaginário dissidente que poderia ser vital, visceral e libertador.
Transforma Música chega para rasgar esse cenário, rompendo com qualquer expectativa domesticada. Este é o espaço para o novo, para o fora-da-lei das sonoridades. Ali Prando, filósofo, curador e artista queer, inaugura o projeto e agora, com um time ainda mais radical, invoca a música queer em sua multiplicidade eletrônica, punk, post-punk e alternativa. São gêneros onde nossa comunidade sempre encontrou um lar, um portal para as estéticas que fogem do comercial, um levante contra a normatividade.
O festival surge em um momento de inflexão no Brasil: depois de um governo que cultivou a violência contra pessoas LGBTQIAP+ em seu discurso institucional, vemos a cultura como resistência, como gesto de reposição e subversão. Mais que um festival, Transforma Música é uma insurgência coletiva, um terreno para novas ideias e encontros entre o marginal e o mainstream, a dissidência e a estrutura. É onde músicos, performers, realizadores do audiovisual, curadores e operadores culturais quebram com a tradição e recriam o futuro.
Quais novas linguagens podem emergir fora do mercado controlado e asfixiante? Como a música pode avançar enquanto o sistema faz de tudo para nos apagar? A cada show e a cada talk, o Transforma Música desafia propondo justamente essas perguntas. Aqui, música é território de ativismo. É forma de vida, é tática de sobrevivência e de combate.
Discutiremos as barreiras – invisíveis e escancaradas – que músicos LGBTQIAP+ enfrentam ao entrar em um mercado que se pretende diverso mas tem aversão ao real dissidente. Nos talks temas diversos como a importância da música eletrônica para a comunidade queer, estratégias para enfrentar os algoritmos do mercado e ter casas de shows como aliados, passando também pelos tempos de Madame Satã, Secos & Molhados e Claudia Wonder, artistas que carregam o DNA queer em suas lógicas de subversão, de reimaginação e resistência.
Entre os dias 13 e 15 de dezembro, na Galeria Olido, São Paulo, Transforma Música está de volta. Com curadoria de Ali Prando, assistência de Leon Franz e produção executiva de Simone Santos, essa edição do festival é um convite para enfrentar o status quo, para radicalizar a cena e para celebrar o ruído, o suor e o som queer que não se doméstica.
Confira a programação e não deixe de participar. Todas as atividades são gratuitas!
E lembre-se: o impossível é aquilo que nos é devido!
13 de novembro de 2024.